Meus suaves delírios!

Era uma daquelas tardes bonitas, com o céu bem azul e sem nuvens, o sol brilhando forte. Eu estava caminhando distraidamente pelas ruas da parte antiga da cidade; conhecia bem aquele lugar e gostava de ficar por ali quando não tinha mais nada pra fazer, mas eu nunca reparava muito nas casas ou nas pessoas por estar sempre perdida em pensamentos.

Em uma dessas ruas, cheia de arvores e de um ar fresco incrivelmente tranqüilizante eu resolvi andar mais de vagar, talvez pra poder aproveitar melhor o momento.

Depois de alguns passos eu comecei a ouvir uma música suave. No começo eu pensei que toda aquela atmosfera de paz havia me embriagado a ponto de eu estar delirando, ouvindo músicas vindas de Deus sabe onde, mas depois de prestar um pouco de atenção às notas eu notei que elas vinham da varanda de uma casa verde na outra calçada. Então, resolvi atravessar a rua para poder ouvir melhor. A melodia se encaixava perfeitamente a toda aquela sensação boa que a rua me trazia.

Agora eu podia ouvir melhor, e podia ver melhor também. Havia um senhor sentado na varanda com um violão nas pernas, dedilhando delicadamente com os olhos fechados como se estivesse em transe. Pela expressão no seu rosto eu tive a impressão de que toda a atmosfera tranqüila que eu sentia pela rua saia dele e da música que ele tocava, e retornava a ele ainda mais tranqüila e intensa.

Automaticamente eu me aproximei do portão da casa, de onde eu podia ver melhor o homem que tocava. Era um portão baixo de ferro pintado de branco, ficava na altura da minha cintura e deixava o caminho dos meus olhos livre até onde o homem estava sentado.

Fiquei lá parada não sei quanto tempo, hipnotizada pelo dedilhado ágil e a música suave. Aparentemente ele não havia percebido minha presença, o que me fez ficar mais à vontade para deixar meus pensamentos serem guiados pelas notas, como ele parecia estar fazendo.

Sem que eu percebesse a música foi tomando conta não só dos meus pensamentos, mas de todo meu corpo e de todos os meus sentidos até que eu não ouvisse ou sentisse mais nada, apenas aquela música. E cada nota me levava para um lugar diferente, com cores e texturas diferentes; hora eu estava no fundo do mar, nadando livremente e sentindo a água fria na minha pele, hora estava no céu voando e sentindo o vento em meus cabelos. Todas as sensações muito intensas e rápidas. Se eu pudesse permanecer ali pelo resto dos meus dias eu o faria e foi exatamente esse pensamento que me trouxe de volta, me lembrando de todas as preocupações do di-a-dia, do homem sentado a minha frente, do caminho que eu ainda tinha de percorrer...

Quando abri meus olhos estava ainda de pé, na frente do portão da casa verde, no meio da rua em que eu estava caminhando. O homem havia parado de tocar e estava ainda sentado olhando pra mim com uma expressão indecifrável. Assustei-me. De repente estava com vergonha por ter aparecido ali do nada e ter ficado sabe Deus quanto tempo ali parada mergulhada dentro em mim mesma pela música.

Quando quis me virar pra sair dali o homem abriu um sorriso, tão satisfeito e tão hospitaleiro que eu mais uma vez não tive coragem de me mover. Só o que consegui fazer foi retribuir o sorriso, meio sem jeito.

Ele abaixou a cabeça, se levantou e entrou na casa. Quando ouvi o barulho da chave trancando a porta, relaxei e consegui me virar e seguir meu caminho, me perdendo em pensamentos mais uma vez.

A partir dali, segui normalmente até minha casa, como fazia sempre. Sem reparar muito bem nas coisas à minha volta, perdida em mim, apenas refletindo... Mas, naquela tarde, depois de ouvir aquela música (que eu não sabia bem havia mesmo sido música, ou que diabos havia sido aquilo tudo), algo mudou em mim. Eu parecia mais leve, mais alegre. Meus pensamentos pareciam fluir mais facilmente, as soluções surgiam com mais facilidade, tudo parecia mais suave dentro e fora de mim; dos meus pensamentos aos meus pés tocando a calçada.

Minhas caminhadas por aquelas ruas nunca mais foram as mesmas. Foram melhores, cada vez melhores, cada vez mais aproveitáveis. Passei a por mais atenção à minha volta quando passava por lá, pra ver se por sorte encontrava outro músico que me levasse ao mais profundo de mim mesma, ou simplesmente pra apreciar mais intensamente a curiosa paisagem daquela parte da cidade.

Algumas vezes tentei voltar àquela rua, àquela casa. Tentei ouvir mais uma vez aquela música. Mas, ou a rua mudou de lugar, ou o senhor não está mais lá ou então, minha gente, foi tudo um grande sonho... Apenas mais uma parte, a mais profunda delas, dos meus mergulhos em mim mesma!


Comecei a escrever há algum tempo. Terminei hoje (agora, pra ser bem exata)

Achei um "conto" interessante... Não sei se vão gostar ou entender um pouco do que eu tentei colocar aí, se é que eu tentei colocar algo. O fato é que as palavras e as cenas simplesmente foram saindo, como acontece quase sempre que eu quero escrever algo...

Well... I hope you enjoy! ;)

8 comentários:

SONIC disse...

Se isso aconteceu com você, pode até dizer não para mim... mas eu visualizei como se estivesse filmando tudo... E música é a linguagem da Alma de forma mais pura e até mesmo inconsciente... Um dia quero passar nessas ruas e dar uma Gibson SG para esse senhor tocar essa música para a gente! O que acha?
Sempre com deleitosos devaneios que me fazem tem a mesma sensação no seu cantinho! Espero novidades em breve!

Beijos, querida!

Mariko Yuka! disse...

. achei muito interessante *-*

Claudio Henrique disse...

Bem legal. Bastante interessante.

Luiz Paulo Sacoman Almeida disse...

Imaginei como se eu estivesse infiltrado na cena de verdade... foi bem profundo e você escreve muito bem! Achei muito legal e tocante ;3
Continue escrevendo contos que você tem talento!

Luiz Paulo Sacoman Almeida disse...

Gostei do seu blog, tem ótimos textos!
Vou acompanhá-lo daqui pra frente ;]

Blog da Satine disse...

muito legal o seu blog...
to te seguindo e vc entro pra minha lista de blogs legais OK!
bjs
http://revelandoflores.blogspot.com/

Lucas Lins disse...

li 2 textos... ótimo jeito de escrever... excelente narrativa ! tipo d roteirista mesmo ! parabéns !


c poder... da uma olhadinha :::
http://www.escolhaopcional.blogspot.com

Blogger do Herbert disse...

Putz, os textos são excelentes. Este aqui é sensacional . Parabéns pelo talento . Bjãoo

nestaestrada.blogspot.com/

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